O ato de tocar passa
pelo interesse genuíno e cheio de amor pelo próximo, pelo desejo profundo de
dar e receber afeto.
Dar e receber contato físico são experiências
fundamentais para o desenvolvimento humano. A pele, além de ser o maior órgão
do corpo, é também o receptor do sentido do tato. Através dela, a sensação do
toque que damos ou recebemos chega rapidamente ao cérebro, transmitindo-nos
tanto o prazer quanto o desconforto dos contatos corporais.
Na nossa espécie, a experiência tátil começa desde a
fase fetal. No útero, o bebê recebe estímulos sensoriais o tempo todo através
da pele. Nos momentos que antecedem ao parto normal, são os estímulos corporais
que sinalizam tanto à gestante quanto ao nascituro que é hora da chegada de um
novo ser ao mundo. E é também no contato corporal com a mãe que a criança faz
sua primeira comunicação com o mundo externo. Através desta interação física, o
recém-nascido pode receber novamente o conforto perdido da vida intrauterina e
experimentar o calor e a segurança tão necessários para sua adaptação e
desenvolvimento nos primeiros anos de vida.
O contato através da pele é um meio potente de
comunicação que poderá ser desenvolvido ou bloqueado. Na verdade, as pessoas
deveriam se tocar mais. Em muitas situações da vida, um toque é sempre
importante e pode mesmo ser terapêutico. Uma pessoa entristecida, por exemplo,
pode ser confortada através de um abraço demorado e acolhedor. Momentos de
sofrimento podem ser aliviados quando alguém toca o ombro ou segura a mão de
quem sofre; aquele que chora precisa de quem, suavemente, lhe enxugue as
lágrimas, e assim por diante. Quem já desenvolveu essa sensibilidade saberá o
tamanho, a forma e a intensidade de como deve ser o contato físico.
Numa sociedade erotizada como a nossa, qualquer
referência a toques entre seres humanos tende logo a receber conotação sexual.
Contudo, o ato de tocar também passa pelo interesse genuíno e cheio de amor
pelo próximo, pelo desejo profundo de dar e receber afeto. A falta do contato
físico tem acarretado muitos danos ao ser humano – e não apenas no
desenvolvimento de algumas doenças físicas, mas também na interação social do
indivíduo e na sua capacidade de expressar amor e criar vínculos. Ashley
Montagu, antropólogo inglês e autor do livro Tocar – O significado humano da
pele, cita em sua obra que a falta de contato físico e do aconchego do colo
pode aprisionar uma pessoa dentro de si mesma, dificultando tanto sua caminhada
na direção do outro como a aceitação da proximidade com outras pessoas. Para
ele, o contato ajuda o ser humano a ultrapassar a barreira da sua própria pele,
a qual o separa do seu mundo externo. Assim, o ato de tocar funciona também
como uma espécie de libertação.
Há várias razões pelas quais podemos ter dificuldades
tanto em dar como em receber o toque. A primeira delas é simples: não tocamos
porque não fomos tocados por aqueles que cuidaram de nós e não sabiam da
importância deste contato. E a dor causada pela ausência do toque poderá se
manifestar de forma intensa e insuportável quando somos tocados ou desejamos
tocar. Segundo, porque muitos de nós nascemos de pais que não sabiam separar o
toque amoroso e carinhoso do contato visando relacionamento sexual. E dessa
forma, além de passarem uma ideia distorcida do carinho, também não deram aos
filhos a interação física tão necessária, não apenas no início da vida, mas
também quando deixam a infância.
O toque cura, quando se tem intenção...