terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Vama Marga e Kundalini Despertando

Texto retirado do livro: Kundalini Tantra escrito por Swami Satyananda Saraswati
Tradução:
 Teresa Cristina Muniz









Vama Marga e Kundalini Despertando


A vida sexual tem sido sempre um problema para a humanidade. Desde o começo da história, a energia primal tem sido mal compreendida. Professores religiosos e moralistas têm denunciado isto. Mas a vida sexual continua, não porque o homem a respeite, mas porque ele necessita dela. Ele talvez a renuncie, mas ele não pode removê-la de sua mente, porque ela é um de seus mais poderosos impulsos.
No contexto do yoga e do tantra, a comum definição de vida sexual não tem relevância. É absolutamente não científico e incorreto. Essa definição tem criado uma sociedade e uma nação de hipócritas. Tem conduzido milhares de pessoas jovens para dentro de um asilo mental. Quando você quer algo o qual você pensa que é mal, todos os tipos de complexos de culpa surgem. Isto é o início da esquizofrenia, e todos nós somos esquizofrênicos em certa extensão.

Entretanto, os yoguis têm tentado dar uma direção correta para o impulso sexual. Yoga não interfere com a vida sexual. A vida sexual normal nem é espiritual ou não espiritual. Mas se você pratica yoga e domina certas técnicas, então a vida sexual se torna espiritual. Naturalmente, se você segue uma vida celibatária, isto é também espiritual.


Tantra da mão esquerda

A ciência do tantra tem dois principais ramos, os quais são conhecidos como vama marga e dakshina marga. Vama marga é o caminho esquerdo o qual combina vida sexual com práticas de yoga para despertar os centros de energia adormecidos. Dakshina marga é o caminho da direita das práticas de yoga sem lei sexual. Previamente, devido as barreiras na vida sexual, o caminho mais largamente seguido foi o dakshina marga. Hoje, entretanto, estas barreiras estão sendo rapidamente quebradas, e o caminho mais procurado pelas pessoas em todos lugares é vama marga, a qual utiliza a vida sexual para o desenvolvimento espiritual.

De acordo com o tantra, a vida sexual tem uma proposta tríplice. Alguns praticam-na para procriação, outros por prazer, mas as práticas tântricas são para o samadhi. Ele não mantém nenhuma visão negativa sobre isto. Ele a faz como uma parte de sua sadhana. Mas, ao mesmo tempo, ele se dá conta que para propostas espirituais, a experiência deve ser mantida. Ordinariamente, esta experiência é perdida antes que alguém possa aprofundar-se nela. Dominando certas técnicas, entretanto, esta experiência pode tornar-se contínua mesmo em todas as parte da vida diária. Então os centros silenciosos do cérebro são despertados e começam a funcionar todo o tempo.


A energia principal

A alegação do vama marga é que o despertar de kundalini é possível por meio da interação sexual entre o homem e a mulher. O conceito atrás disso segue as mesmas linhas que o processo de fissão e fusão descritos na física moderna.O homem e a mulher representam a energia positiva e negativa. Em um nível mental eles representam tempo e espaço. Ordinariamente, estas duas forças permanecem em pólos opostos. Durante a interação sexual, entretanto, eles movem-se para fora de suas posições de polaridade, em direção ao centro. Quando eles vem juntos ao núcleo ou ponto central, uma explosão ocorre e a matéria torna-se manifesta. Este é o tema básico da iniciação tântrica.

O evento natural que toma lugar entre o homem e a mulher é considerado como a explosão do centro de energia. Em todo pontinho da vida, ela é a união entre os pólos positivo e negativo que é responsável pela iluminação, e a experiência que ocorre neste momento de união é um vislumbre da alta experiência.

Este assunto tem sido cuidadosamente discutido em todas as antigas escrituras do tantra. Verdadeiramente mais importante do que as ondas de energia que são criadas durante a união mútua, é o processo de direcionamento dessa energia para os centros mais altos. Todos sabem como esta energia é criada, mas ninguém sabe como dirigi-la para os centros mais altos. De fato, muito poucas pessoas tem completo entendimento positivo desse evento natural o qual quase todas pessoas no mundo experienciam. Se a experiência conjugal, a qual é geralmente muito transitória, pudesse ser extendida por um período de tempo, então a experiência de iluminação poderia ocorrer.

Os elementos que são trazidos juntos nesse processo de união são conhecidos como Shiva e Shakti. Shiva representa o purusha ou consciência e Shakti representa prakriti ou energia. Shakti, de diferentes formas, é representada em toda a criação. Ambos a energia material e espiritual são conhecidos como Shakti. Quando a energia move-se externamente, ela é a energia material e quando ela é dirigida interiormente é a energia espiritual. Entretanto, quando a união entre homem e mulher é praticada de uma forma correta, ela tem uma influência muito positiva no desenvolvimento da consciência espiritual.


Mantendo o bindu

Bindu significa um ponto ou uma gota. No tantra, bindu é considerado o núcleo, ou domicílio da matéria, o ponto do qual toda criação torna-se manifesta.
Verdadeiramente, a fonte do bindu são os mais altos centros do cérebro. Mas devido ao desenvolvimento das emoções e paixões, o bindu cai para uma região mais baixa onde é transformado em esperma e óvulo. No nível mais alto, bindu é um ponto. No nível mais baixo, ele é a gota de líquido, a qual goteja do organismo masculino e feminino.
De acordo com o tantra, a preservação do bindu é absolutamente necessária por duas razões. Primeiramente, o processo de regeneração pode unicamente ser executado com a ajuda do bindu. Em segundo lugar, todas as experiências espirituais ocorrem quando existe uma explosão do bindu. Esta explosão pode resultar na criação de tudo ou de nada. Entretanto, no tantra, certas práticas são recomendadas através das quais o parceiro masculino pode parar a ejaculação e manter o bindu.

De acordo com o tantra, a ejaculação não deveria ocorrer. Alguém deveria ensinar como interrompê-la. Para este fim, o parceiro homem deveria ter aperfeiçoado as práticas de vajroli mudra tão bem quanto mula bhanda e uddiyana bandha. Quando estas três kriyas estão perfeitas, a pessoa está apta a parar a ejaculação completamente em qualquer ponto da experiência.

O ato sexual culmina em uma particular experiência a qual é alcançada somente no ponto de explosão da energia. A menos que a energia exploda, a experiência pode não ocorrer. Mas esta experiência tem de ser mantida, assim que o nível da energia mantem-se alto. Quando o nível da energia cai a ejaculação ocorre. Entretanto, a ejaculação é evitada, não tanto para preservar o sêmen, mas porque isto causa a depressão no nível de energia.

Para fazer esta energia viajar para cima através da espinha, certas kriyas do hatha yoga tem sido dominadas. A experiência a qual é concomitante de energia tem que ser elevada para os centros mais altos. Isto somente é possível fazer se você pode prolongar e manter esta experiência. À medida que a experiência continua, você pode dirigi-la para os centros mais altos. Mas tão logo o nível de energia sofra uma depressão, a ejaculação ocorre.

A ejaculação baixa a temperatura do corpo e ao mesmo tempo, o sistema nervoso sofre uma depressão. Quando o sistema nervoso simpático e parassimpático sofrem uma depressão, isto afeta o cérebro. Isto é o que faz muitas pessoas terem problemas mentais. Quando você pode manter o sêmem sem absolutamente ejacular, a energia no sistema nervoso e a temperatura em todo corpo são mantidas. Ao mesmo tempo, você está livre do sentido de perda, depressão, frustração e culpa. A retenção também ajudará você a aumentar a freqüência sexual, e isto é melhor para ambos os parceiros. O ato sexual não cria fraqueza ou dissipa a energia, pelo contrário, ele pode tornar-se um meio de expansão da energia. Entretanto, o valor de manter o bindu não deveria ser subestimado.

No Hatha yoga existem certas práticas as quais devem ser aperfeiçoadas para este fim. Você deveria começar com asanas tal como paschimottanasana, shalabhasana, vajrasana, supta vajrasana e siddhasana. Estas são benéficas conforme elas determinam uma automática contração nos centros mais baixos. Shirshasana é também importante porque ventila o cérebro assim que toda a experiência de uma pessoa será saudavelmente vivenciada. Quando estas posturas tiverem sido dominadas, shambhavi mudra é aperfeiçoada a fim de segurar a concentração firmemente no bhrumadhya. A prática de kumbhaka é necessária enquanto a ejaculação está sendo retida.
Retenção do fôlego e o bindu seguem de mãos dadas. A perda da kumbhaka é a perda do bindu, e a perda do bindu é a perda da kumbhaka.

Durante a kumbhaka, quando você está mantendo a experiência, você deveria poder direcionar isto para os centros mais altos. Se você pode criar um arquétipo desta experiência, talvez na forma de uma serpente ou de uma continuidade luminosa, seqüêncial, então o resultado será fantástico. Assim, na vida espiritual, o bindu deve ser preservado a todo custo.


A experiência feminina

No corpo da mulher, o ponto de concentração é o muladhara chakra, o qual está situado no cervix, justamente atrás da abertura do útero. Este é o ponto onde espaço e tempo unem-se e explodem na forma de uma experiência. Esta experiência é conhecida como orgasmo na linguagem ordinária, mas na linguagem do tantra ela é chamada um despertar. Para manter a continuidade da experiência, é necessário que o desenvolvimento da energia ocorra em um particular bindu ou ponto. Usualmente isso não acontece, porque a explosão de energia dissipa o corpo totalmente através do sexo médio, moderado. Para evitar isto, a mulher deve poder segurar sua mente em concentração absoluta neste ponto particular. Para isto, a prática é conhecida como sahajoli.

Verdadeiramente, sahajoli é a concentração no bindu, mas isto é muito difícil. Entretanto, a prática de sahajoli, a qual é a contração da vagina tanto quanto dos músculos do útero, deveria ser praticada por um longo período de tempo.
Se as meninas são ensinadas a fazer uddiyana bandha cedo, elas aperfeiçoarão sahajoli muito naturalmente com o tempo. Uddiyana bandha é sempre praticado com retenção externa. É importante poder faze-la em qualquer posição. Usualmente, ela é praticada em siddha yoni asana, mas a pessoa deveria poder faze-la em vajrasana ou na várias outras posturas também. Quando você pratica uddiyana bandha, as outras duas bandhas – jalandhara e mula bandha ocorrem espontaneamente.

Anos desta prática criarão um aguçado senso de concentração no correto ponto no corpo. Esta concentração é de natureza mais mental, mas ao mesmo tempo, desde que não seja possível faze-la mentalmente, a pessoa tem que começar de algum ponto físico. Se uma mulher é capaz de concentrar e manter a continuidade da experiência, ela pode despertar sua energia para um alto nível.

De acordo com o tantra, existem duas diferentes áreas de orgasmo. Uma é na zona nervosa, a qual é a experiência comum da maioria das mulheres, e a outra é no muladhara chakra. Quando sahajoli é praticado durante o maithuna (o ato de união sexual ), o muladhara chakra desperta e o orgasmo espiritual ou tântrico ocorre.

Quando a yogui mulher pode praticar sahajoli por digamos 5 a 15 minutos, ela pode manter o orgasmo tântrico pelo mesmo período de tempo. Mantendo essa experiência, o fluxo de energia é revertido. A circulação do sangue e as forças simpáticas e parassimpáticas movem-se para cima.
Neste ponto, ela transcende a consciência normal e vê as luzes. É como se ela entrasse em um estado mais profundo de dhyana. A menos que a mulher possa praticar sahajoli, ela não poderá manter os impulsos necessários para o orgasmo tântrico, e conseqüentemente ela terá o orgasmo nervoso, o qual tem uma vida curta e é seguido por insatisfação e exaustão.

Esta é a mais freqüente causa de histeria e depressão nas mulheres. Assim, sahajoli é uma prática extremamente importante para a mulher. Em uddiyana, nauli, naukasana, vajrasana e siddha yoni asana, sahajoli vem naturalmente.

A prática de amaroli é também muito importante para a mulher casada. A palavra amaroli significa “imortal” e por esta prática a pessoa é liberta de muitas doenças.
A prática de amaroli após um prolongado período também produz um importante hormônio conhecido como prostaglandina a qual destrói o óvulo e previne a concepção.


Guru tântrico

Justamente como no esquema da criação, Shakti é a criadora e Shiva a testemunha de todo jogo, no tantra a mulher tem o status de guru e o homem de discípulo. A tradição tântrica é verdadeiramente passada da mulher para o homem. Na prática tântrica, é a mulher que dá a iniciação.

É somente por seu poder que o ato de maithuna ocorre. Todas as preliminares são feitas por ela. Ela coloca a marca na testa do homem e conta-lhe onde meditar. Na interação comum, o homem toma o papel agressivo e a mulher participa. Mas no tantra, eles trocam de papéis. A mulher torna-se a operadora e o homem o seu mediador. Ela tem que poder despertá-lo. Então, neste mesmo momento, ela deve criar o bindu assim ele pode praticar sahajoli. Se o homem perde seu bindu, significa que a mulher falhou em desempenhar suas funções com propriedade.

No tantra é dito que Shiva é incapaz sem Shakti. Shakti é a sacerdotisa. Entretanto, quando vama tantra é praticado, o homem deve ter uma absoluta atitude tântrica em direção à mulher. Ele não pode comportar-se com ela como os homens geralmente fazem com outras mulheres. Ordinariamente, quando um homem olha uma mulher ele torna-se apaixonado, mas durante o maithuna ele não deveria. Ele deveria olha-la como a mãe divina, Devi, e desenvolver com ela uma atitude de devoção e rendição, não com luxúria.

De acordo com o conceito tântrico, as mulheres são mais dotadas de qualidades espirituais e seria uma coisa sábia se a elas fosse permitido assumir posições elevadas nas questões sociais. Então, existiria maior beleza, compaixão, amor e compreensão em todas as esferas da vida.

O que nós estamos discutindo aqui não é uma sociedade patriarcal versus uma sociedade matriarcal, mas tantra, particularmente tantra da mão esquerda.


O caminho dos yoguis não bhogis

No tantra, a prática do maithuna é dita ser o mais fácil modo de despertar o sushumna, porque ele envolve um ato o qual a maioria das pessoas já estão acostumadas. Mas, francamente falando, muito poucas estão preparadas para este caminho. A interação sexual ordinária não é maithuna. O ato físico talvez seja o mesmo, mas o conhecimento trazido é totalmente diferente.

No relacionamento entre marido e esposa, por exemplo, existe dependência e posse, mas no tantra cada parceiro é independente, cada um com si mesmo. Outra coisa difícil na sadhana tântrica é cultivar a atitude de não apaixonado. O homem tem que virtualmente tornar-se brahmacharya para poder libertar a mente e as emoções dos pensamentos sexuais e de paixão os quais normalmente despertam na presença de uma mulher.

Ambos parceiros devem ser absolutamente purificados e possuir auto-controle tanto interna e externamente, antes de praticarem o maithuna. Isto é difícil para as pessoas comuns compreenderem porque para a maioria das pessoas, a interação sexual é o resultado de paixão e atração física e emocional, também para procriação ou prazer.

É somente quando você está purificado que estes impulsos instintivos são ausentes. Isto é porque, de acordo com a tradição, o caminho do dakshina marga deve ser seguido por muitos anos antes de poder entrar no caminho do vama marga. Então a interação do maithuna não ocorre para a gratificação física. A proposta é muito clara – despertar do sushumna, a subida da energia de kundalini do muladhara chakra, e a explosão das áreas inconscientes do cérebro.

Se isto não está claro quando você pratica os kriyas e sushumna se torna ativo, você não poderá encarar o despertar. Sua cabeça ficará quente e você não poderá controlar a paixão e excitação porque você não terá traquilizado seu cérebro.

Entretanto, em minha opinião somente aqueles que são adeptos do yoga estão qualificados para o vama marga. Este caminho não deve ser usado indiscriminadamente como um pretexto para auto-indulgência. Ele é referido para maduros e sérios sadhakas chefes de família cuidadosos para despertar a energia potencial e obter o samadhi.

Eles devem utilizar este caminho como um veículo do despertar, de outra form






Eles devem utilizar este caminho como um veículo do despertar, de outra forma ele torna-se um caminho de queda.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

TOCAR...Energia a flor da pele!!!

Um texto que nos fala um pouco do benefício do toque terapêutico como um todo, extraído da revista Planeta. espero que gostem:
“ Tocar pode significar dar vida”, dizia o mestre renascentista Michelangelo Buonarroti. Na célebre pintura do artista italiano, no teto da Capela Cistina, no Vaticano, A Criação de Adão, Deus insufla vida ao primeiro homem tocando seu dedo indicador. Para os cientistas, entretanto, o toque nunca havia despertado muito interesse. Um tapinha nas costas ou uma carícia no braço são, em geral, colocados na relação de gestos incidentais como franzir a testa ou apoiar o queixo na mão. Na verdade, não são.
Estudos recentes demonstram que o toque é muito mais importante do que se imagina. Ele é fundamental, por exemplo, na comunicação humana, no estreitamento de relações e na saúde. “(O toque) é a primeira linguagem que aprendemos e nosso mais rico meio de expressão emocional através da vida”, diz o norte-americano Dacher Keltner, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, Berkeley, um dos mais renomados pesquisadores da área.
O antigo menosprezo em relação ao toque provavelmente tem raízes no modo como cada cultura o vê. Os primatas passam entre 10% e 20% de seu tempo de vigília afagando a pele ou os pelos de outros membros de sua comunidade, porque o exercício é um meio importante para construírem relacionamentos de cooperação. Entre os parentes humanos, porém, esses índices são bem mais variáveis. Norte-americanos e ingleses, por exemplo, quase não se tocam, enquanto povos de origem latina, como brasileiros e italianos, tocam-se muito.
Nos anos 1960, o psicólogo canadense Sidney Jourard já salientava essas diferenças ao estudar conversas entre amigos de várias partes do mundo.

Animais lambidos e acariciados pelas mães, na infância, se mostram mais calmos e resilientes diante de fatores de estresse na fase adulta, além de exibirem um sistema imunológico mais forte
Os ingleses que ele observou, por exemplo, não se tocaram nenhuma vez; os norte-americanos, duas. Já os franceses tocaram um ao outro 110 vezes por hora e os porto-riquenhos, 180 vezes por hora. Em inglês, a recorrente expressão “don’t touch me” (não me toque) é considerada um indicador do caráter reservado dos anglo-saxônicos.
Não tocar o outro ou tocá-lo pouco não impede, é claro, as sociedades de atingirem um estágio adiantado de desenvolvimento, como a inglesa e a norte-americana são exemplos. Mas a ciência moderna mostra que o toque é muito benéfico – algo observável já no início da vida. Segundo um estudo da médica norte-americana Tiffany Field, diretora do Instituto de Pesquisas do Toque da Universidade de Miami, bebês prematuros que receberam três sessões diárias de 15 minutos de massagem terapêutica (o processo pelo qual vários tipos de toques e carícias são aplicados no corpo para melhorar a saúde e aumentar o bemestar), por um período de cinco a dez dias, ganharam 47% de peso a mais do que aqueles cujo tratamento seguiu o roteiro tradicional.
Toque divino: detalhe de A Criação de Adão, pintura de Michelangelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma.
Uma pesquisa com ratos, feita pela psicóloga norte-americana Darlene Francis e pelo psiquiatra canadense Michael Meaney, revela que os animais muito lambidos e acariciados pelas mães, na infância, se mostram mais calmos e resilientes diante de fatores de estresse na fase adulta, além de exibirem um sistema imunológico mais forte.
Segundo Keltner, é bem possível que esteja aí a explicação de por que os bebês humanos deixados em orfanatos e privados de contato físico não atingem as medidas esperadas de altura e peso e apresentam problemas comportamentais ao longo da vida. “Contato físico insuficiente durante o crescimento pode estar relacionado ao risco de depressão em idade adulta”, reforça o neurocientista inglês Francis McGlone.
O poder calmante do toque foi documentado num estudo com mulheres conduzido pelos neurocientistas norteamericanos James Coan, Richard Davidson e Hillary Schaefer, da Universidade da Virgínia. As participantes foram colocadas num aparelho de ressonância magnética funcional e, avisadas de que ouviriam uma explosão seguida de “ruído branco” (tipo de barulho produzido pela combinação simultânea de sons de todas as frequências), apresentaram uma atividade intensa nas áreas do cérebro relacionadas a ameaça e estresse. Nada disso aconteceu, entretanto, com as participantes cuja mão era segurada por seu parceiro. O toque parece ter desativado a reação de medo nessas voluntárias.
As massagens feitas entre os membros de um casal podem render ainda mais dividendos, segundo estudos de Tif fany Field. Além da redução da dor, as vantagens incluem o alívio da depressão e o fortalecimento dos laços afetivos.
Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, Berkeley, conduzida pelo nor te-americano Matt Her tenstein (hoje professor de psicologia na DePauw University) e com a participação de Keltner, investigou se os humanos podiam comunicar claramente emoções, como a compaixão, por meio do toque. Os pesquisadores montaram no laboratório uma divisória que separava dois voluntários, um desconhecido do outro. Enquanto um deles punha seu braço num espaço específico aberto na divisória, e aguardava, a pessoa do outro lado recebia uma lista de emoções, que devia transmitir uma a uma por meio de um toque de um segundo no antebraço do parceiro.
Segundo Keltner, dado o número de emoções em exame, as probabilidades de adivinhar a alternativa certa pelo acaso eram de cerca de 8%. “Mas, notavelmente, os participantes adivinharam a compaixão corretamente, cerca de 60% do tempo”, disse. Gratidão, raiva, amor e medo também tiveram índices de acerto acima dos 50%. Percebeu-se ainda que as pessoas não apenas identificam a gratidão, a compaixão e o amor transmitidos pelo toque como podem também diferenciar os tipos de toque usados com essa finalidade.
“Costumávamos pensar que o toque servia apenas para intensificar as emoções comunicadas”, afirmou Hertenstein. “Agora, nós o vemos como um sistema de sinalização muito mais diferenciado do que havíamos imaginado.” Esse e outros estudos levaram Keltner a concluir que o toque é uma linguagem primordial da compaixão e uma ferramenta básica para disseminá-la.
Toques solidários com as mãos, abraços e peitadas são frequentes entre os campeões de basquete do Los Angeles Lakers.
Responsabilidade partilhada
Quando relaxadas, as áreas pré-frontais do cérebro tornamse liberadas para executar uma de suas funções primárias: a resolução de problemas. Segundo o psicólogo norte-americano James Coan, da Universidade da Virgínia, o toque que sugere apoio leva o cérebro a trabalhar nesse sentido, por ser entendido pelo corpo como a informação de que alguém está ali para ajudar. “Pensamos que os humanos constroem relacionamentos precisamente por essa razão, distribuir a resolução de problemas pelos cérebros”, afirmou Coan ao jornal The New York Times. “Estamos conectados para literalmente partilhar a carga de processamento. Esse é o sinal que obtemos quando recebemos apoio por meio do toque.”
O toque tem um potencial, na saúde, que vai muito além do simples relaxamento. Só recentemente se começou a dedicar mais atenção a essa área. Já se sabe que um toque carinhoso básico acalma o estresse cardiovascular e ativa o nervo vago, diretamente ligado à resposta compassiva da pessoa. Tocar pacientes com a doença de Alzheimer lhes dá grandes benefícios em termos de relaxamento, redução da depressão e estabelecimento de conexões emocionais com outras pessoas.
De acordo com Tiffany, a massagem terapêutica reduz o cortisol, hormônio ligado ao estresse, e aumenta a produção de dois neurotransmissores, a dopamina (que estimula a atividade do sistema nervoso central) e a serotonina (responsável, entre outras funções, pela liberação de diversos hormônios e associada ao estado de felicidade).
No Instituto de Pesquisas do Toque, Tiffany tem feito diversas experiências de massagem terapêutica em pacientes com os mais variados problemas de saúde. “Não há uma única condição que tenhamos observado – incluindo o câncer – que não tenha respondido positivamente à massagem”, afirma. Nos estudos ela constatou que a massagem terapêutica alivia problemas autoimunes (amplia a função pulmonar em casos de asma e reduz os níveis de glicose na diabete) e aumenta a função imune (por exemplo, eleva o número de células de defesa em pessoas com HIV ou com câncer). Ela descobriu ainda que crianças autistas (as quais, segundo se acreditava, detestam ser tocadas) adoram ser massageadas pelos pais ou por um terapeuta.
O toque também ajuda a deixar as pessoas mais alertas e melhora seu desempenho. Um estudo da Universidade da Califórnia, Berkeley, publicado em 2010 na revista Emotion, avaliou se há uma relação entre as vitórias dos times da National Basketball Association (NBA, a liga norte-americana de basquete) e os toques entre jogadores.
Os pesquisadores descobriram que dois dos times de melhor rendimento – o Boston Celtics e o Los Angeles Lakers – eram os líderes em toques entre jogadores (foram considerados toques o bater de mãos espalmadas, os abraços e as peitadas). Já as duas equipes nas quais os jogadores menos se tocavam, o Sacramento Kings e o Charlotte Bobcats, tiveram desempenho medíocre.
A educação é outra área que pode se beneficiar do toque. Em um estudo do psicólogo francês Nicolas Gueguen, abordado em artigo publicado na revista Journal of Social Psychology, estudantes tocados no antebraço pelo professor evoluíram em termos de comportamento e produtividade, na comparação com os colegas não tocados. Gueguen verificou ainda que, quando os professores dão tapinhas amigáveis em alunos, estes ficam três vezes mais propensos a participar ativamente da aula.
Para Dacher Keltner, as pesquisas confirmam que existe uma conexão com um nível físico básico que deve ser exercitada. A princípio, ela não tem contraindicações e sua crescente lista de vantagens é cada vez mais lastreada em dados científicos, sem subjetivismos psicológicos. Quando alguém afirma a Tiffany Field que a massagem que ela e sua equipe aplicam é bemsucedida porque “faz a pessoa se sentir bem”, a médica não deixa por menos: “Ora! A massagem funciona porque muda toda a sua fisiologia.”
“Não há uma única condição de saúde que tenhamos observado – incluindo o câncer – que não tenha respondido positivamente à massagem”, afirma a médica Tiffany Field, da Universidade de Miami.
A rota orgânica do toque
O neurocientista inglês Francis McGlone, da área de pesquisa e desenvolvimento da multinacional Unilever, e uma equipe da Universidade de Gotemburgo (Suécia) descobriram, em 2008, uma fibra nervosa, a fibra-C, que responde pela sensação de prazer originária de um toque agradável. Uma vez ativada, essa fibra leva a sensação ao córtex órbito-frontal (a área do cérebro que regula as emoções e está relacionada aos sistemas de recompensa e compaixão), o que causa a liberação de hormônios ligados ao bem-estar.
Entre eles está a oxitocina, o “hormônio do amor”, que, além de influenciar no estabelecimento e na manutenção de relacionamentos, estimula a confiança e reduz os níveis do cortisol, o hormônio do estresse.
McGlone ressalta que as fibras-C não têm relação com o prazer experimentado ao se friccionar órgãos sexuais, nem com as palmas das mãos ou as solas dos pés. Segundo o neurocientista, a fórmula perfeita para um toque carinhoso é fazê-lo numa extensão entre quatro e cinco centímetros de comprimento por segundo, aplicando dois gramas de pressão por centímetro quadrado.
McGlone salienta ainda que as mensagens de prazer originárias do toque seguem da pele para o cérebro por fibras nervosas similares às que enviam a sensação de dor – o que explicaria, por exemplo, por que um estímulo de dor é aliviado quando a região em que surge é imediatamente massageada ou acariciada.
Texto: eduardoaraia@planetanaweb.com.br