Devemos entender as funções bioenergéticas da convulsão orgástica e o
que fazemos quando ela é contrariada ou negada. O tema sexualidade tem
atravessado todos os campos da pesquisa, descobrindo termos, como por
exemplo, economia sexual, concebido com grande dificuldade, como um
conceito que pretende abarcar um novo campo científico: a investigação
biopsíquica, levando à compreensão e a dominação do processo sexual
livre das repressões sociais e da chaga humana que dá origem a todos os
tipos de ditaduras.
A saúde psíquica depende da potência orgástica –
ou a excitação sexual natural e da capacidade humana para o amor. As
enfermidades neuropsicóticas são o resultado de uma perturbação advinda
da incapacidade de amar, tornando-se fonte de ações irracionais como
conseqüência do caos sexual da absoluta maioria das pessoas. Criando,
assim, uma sociedade mecanizada, autoritária e dependente.
As
energias vitais estão ligadas a uma compulsiva moralidade, criando
indivíduos com uma atitude negativa diante da vida e do sexo e que
contraem sua ânsia de prazer apoiada em espasmos musculares crônicos
produtores de ditadores. É a essência do medo de uma existência
independente e orientada para a liberdade, alienando o homem da vida e
tornando-o hostil a ela, o que encontra o seu auge com o desenvolvimento
do patriarcado.
No trabalho, o prazer vem sendo substituído pelo
dever compulsivo e a catástrofe que estamos vivendo é a conseqüência
última desta alienação da vida, com a formação de massas no sentido de
serem cegamente obedientes às autoridades, o que não se deve ao amor
fraternal, mas, sobretudo, à autoridade da família. Assim, a supressão
da sexualidade nas crianças e nos adolescentes é a principal maneira de
se obter esta obediência doentia.
A democracia verdadeira e a
liberdade baseada na consciência e na responsabilidade estão condenadas a
permanecerem como ilusão enquanto não for liberada a satisfação sexual
biológica e natural, mantendo uma sujeição sem remédios; as condições
sociais caóticas continuarão a caracterizar a existência humana.
Permanecerá a destruição da vida por uma educação coercitiva, pela
guerra, os rigores da perturbação social e todas as turbulências. .
Sexualidade
e angústia são funções do organismo vivo que operam em direções
opostas: expansão agradável e contração angustiante. A fórmula do
orgasmo está na base desta relação: “tensão mecânica/carga
bioelétrica/descarga bioelétrica/relaxação mecânica”, cuja supressão
abriu novos caminhos para o problema do câncer, da depressão de um sem
número de perturbações e doenças comprovadamente oriundas da vida
vegetativa. A causa imediata de muitos males pode ser determinada pelo
fato de que o homem é a única espécie viva que não satisfaz a lei
natural da sexualidade: o processo sexual expansivo do prazer biológico,
e, por si, o processo vital produtivo.
A vitória das ditaduras deve
ser atribuída à enfermidade psíquica das massas que não são capazes de
controlar quaisquer das formas de democracia nem econômica, nem social,
nem psicológica. A distorção da sexualidade natural – de conformidade
com os instintos individuais, quaisquer que sejam – e a sua supressão
inicial nas crianças e nos adolescentes são condições humanas universais
na dita sociedade civilizada, transcendendo todas as fronteiras. A
elucidação da função do orgasmo, particularmente, nunca foi bem recebida
pelos grupos científico-profissionais e político-culturais de todos os
tipos, pois a dominação da humanidade está intimamente ligada a tal
processo. Para Freud, a libido é o impulso emocional em busca da
satisfação, o que não foi compreendido nem pelos simpatizantes, nem
pelos inimigos da psicanálise. A libido é como a eletricidade, não
sabemos o que ela é e nem de onde vem. Os eunucos desenvolvem um sadismo
singular que não era encarado como problema. Após a puberdade a
sexualidade está totalmente desenvolvida, o que leva a sociedade a se
apressar em desenvolver inúmeras técnicas de “castração” do indivíduo,
evitando que ele a obtenha, facilitando, assim, a sua dominação completa
ao longo dos tempos. A ditadura totalitária que está igualmente nas
igrejas, nas instituições acadêmicas, entre os comunistas e os governos,
é uma tendência humana universal causada pela supressão do direito ao
prazer, do direito à vida. A educação autoritária, no real e no
simbólico (imposições, disciplinas, horários, uniformes, etc.) constitui
as bases psicológicas das massas populares de todas as Nações, para a
aceitação e o estabelecimento da ditadura moderna, pois o povo ensinado a
ser cegamente fiel, se privará dos seus próprios direitos, matará o que
lhe dá liberdade e fugirá com os ditadores. A lei deve ser íntima e
não, exterior. É mais fácil exigir disciplina e impô-la do que ensinar a
ter prazer no que se faz. É mais fácil insistir na satisfação legal do
respeito e do amor do que conquistar a amizade por meio do comportamento
bondoso.
Outro aspecto importante é o relacionado a uma sociedade
machista instituindo que a célula seminal masculina é mais forte e mais
ágil e os animais machos seriam maiores e mais fortes e belos do que as
fêmeas. E também, freqüentemente, mais coloridos e atraentes ou providos
de chifres para serem mais capazes nas lutas. Argumenta-se que as
formigas operárias eram assexuadas para poderem realizar melhor o seu
trabalho e a natureza se organizava para atender este e aquele
propósito. Assim, tensão e relaxação sexual eram atribuídas a diferentes
instintos especiais: de propagação da fome, de exibição do poder, de
afirmação pessoal, de preservação do instinto maternal, evolutivo,
cultural, de grupo, social, egoísta, altruísta, em direção à dor,
masoquismo, sadismo, de fantasia e o pior de todos, sem dúvida: o
instinto moral.
A verdadeira e secular luta pela democratização da
vida baseia-se na autodeterminação, no trabalho agradável, na construção
coletiva de normas e regras e na alegria terrena do amor. Há esforços
em toda a parte no sentido de transformar a democracia formal em uma
mais autêntica, com a participação efetiva e não, simbolicamente
representativa de todos os seres humanos que labutam por uma autonomia
adaptada à organização natural do trabalho. No campo da higiene mental a
primeira e principal tarefa consiste em substituir o caos sexual, a
prostituição, a literatura pornográfica e o tráfico sexual pela
felicidade natural no amor protegido pela sociedade, o que não implica
em destruir a família e nem minar a sua moralidade. A família e a
moralidade já estão minadas pela sua própria moral compulsiva . Estamos
enfrentando a dura tarefa de dominar as doenças psíquicas causadas pelo
caos social e familiar. A nossa terra jamais encontrará a paz duradoura e
procurará em vão satisfazer a prática da organização social enquanto
políticos e ditadores de qualquer partido, ignorantes e ingênuos
continuarem a corromper e a liderar nossas massas populares sexualmente
doentes. A organização social do homem tem a função natural de proteger o
trabalho e a satisfação natural do amor que têm sido subordinadas às
pesquisas científicas e ao pensamento lógico. Conhecimento, trabalho,
prazer e amor são as fontes de nossas vidas e deveriam também
governá-las e a responsabilidade total deveria ser assumida pelos homens
e mulheres que trabalham.
A higiene mental em escala exige o poder
do conhecimento contra a ignorância; o poder do trabalho virtualmente
necessário contra qualquer forma de parasitismo, quer seja de interesse
econômico, intelectual ou filosófico. A visão científica racional da
vida exclui a ditadura e exige a democracia racional do trabalho, o
poder social exercido pelo povo, produzido pelo amor natural à vida e
pelo respeito ao trabalho executado, o que requer massas trabalhadoras
psiquicamente independentes e o que impede isto é a neurose psíquica da
multidão que se materializa em todas as formas de ditadura e tumulto
político.
Esta estrutura social requer a verdadeira democracia que
não é uma condição de liberdade que passa a ser oferecida por um governo
eleito e totalitário. A verdadeira democracia é um processo longo e
difícil e não, uma manifestação acabada; nela o desenvolvimento será
contínuo e impossível de ser interrompido; o senil dará lugar ao jovem e
novo, em vez de reprimi-lo apelando para a autoridade convencional.
A
tradição é importante para se conhecer as boas e más experiências e
capacitar para aprender, senão, ela será a ruína da democracia, negando
às gerações mais novas a possibilidade de escolhas e ditando o que deve
ser encarado como bom e como mal. Os tradicionalistas se esquecem que,
há muito, perderam a capacidade de decidir.
O caráter político
irracional deve ser substituído pelo domínio racional do processo; o que
exige uma progressiva, auto-educação do povo em direção à liberdade
responsável, em vez da suposição infantil de que a liberdade deve ser
recebida como presente. Neste processo, a psicanálise foi um soco na
cara do pensamento convencional. Ela considera a ação consciente apenas
uma gota comparada ao mar do inconsciente do qual você nada pode saber –
e tem medo de saber. Você é um brinquedo na mão do seu próprio
inconsciente.
O homem tem que insistir material e psiquicamente em
uma sociedade que não segue qualquer modelo preescrito e tem de
defender-se: a vida diária o exige. Por ora, aquele que se afasta do
caminho comum e se torna um visionário é considerado um doente mental.
Quem se livra das fileiras cerradas da turba humana não é compreendido,
as pessoas riem dele quando está fraco; tentam destitui-lo quando está
forte e é condenado a desencadear a sua própria ruína. Este é o destino
de quem tenta se libertar das fileiras cerradas de uma ciência
autorizada e do pensamento linear, elitista e pré-estabelecido como
dogma. A teoria científica convencional é um ponto de apoio, uma
alavanca no caos dos fenômenos vivos. Para quem voa, é uma altitude de
milímetros, quão miseravelmente parece que os carros se arrastam lá
embaixo. A busca do recomeço é para muitos considerada a loucura, que
para Freud é a tentativa de construção do ego perdido.
Todos somos de
certa forma uma máquina elétrica organizada e relacionada com a energia
do cosmos, numa eterna consonância entre o mundo e o eu, como tal
relação é, no geral, altamente negativa e a profundidade do doente
mental é humanamente muito mais valiosa. A miséria do sujeito
não-convencional e fora da sintonia com a vida cotidiana: um sonhador,
um ocioso, os demais são diligentemente encaminhados para a escola e o
trabalho e riem do sonhador. Para ele, a vida de todo o dia é estreita e
exige um método rígido. Temendo o infinito o homem prático se tranca em
um pedacinho da terra e procura segurança para a sua vida, ele cumpre o
seu dever e acredita ter a sua paz.
Pensar é muito cansativo e
perigoso e o homem prático torna-se cada vez mais impotente e tem uma
autoconfiança fascista; é um escravo, um ninguém, mas sua raça é pura e
nórdica, sabe que o espírito governa o corpo e que os generais defendem a
“honra”. Os ideais são só para os tolos.
Todo e qualquer sintoma
deve desaparecer quando seu significado inconsciente tornar-se
consciente. Freud explicou que o sintoma pode, mas não tem que
desaparecer se seu significado tornar consciente e analisou a tensão
sexual como algo agradável e as demais tensões são desagradáveis.
Tensão/relaxação causaria prazer, sendo o instinto o aspecto motor deste
mesmo prazer, assim, prazer orgástico e sensações táteis levam ao
prazer como um componente ativo-motor. Reich complementa este raciocínio
com a teoria do inconsciente dos processos somáticos, segundo a qual se
alguém contraísse um câncer era a fim de que inconscientemente o
desejava como processo de compensação de algum outro aspecto vital o que
Freud analisou como a etiologia das neuroses e psicoses e os
psiquiatras se recusavam a tomar conhecimento disto e se excediam em
ridicularizá-lo.
A hipocrisia sexual do ambiente do psicótico é um
delírio de sujeiras e anti-sociabilidade e por esta ótica, para poderem
existir, as pessoas têm de renunciar aos seus próprios interesses vitais
e adotar formas artificiais de vida. Os psicóticos se consideram certos
e não, os outros.
Se alguém conhece realmente a terrível angústia
das crianças pequenas que são proibidas de masturbarem-se, então
entenderá o semelhante comportamento do paciente neurótico. Ele desiste
do mundo e passa a criar um outro mundo irracionalmente governado.
Graças ao conhecimento da teoria da sexualidade infantil e da repressão
dos instintos pode-se ter uma melhor compreensão interna dos pacientes
psicóticos. Toda enfermidade ou manifestação psíquica tem uma causa
física – materialismo mecanicista. O psíquico e o somático são dois
processos paralelos que exercem efeitos recíprocos de um sobre o outro.
Mesmo
na psicanálise o conceito de caráter não estava livre das avaliações
morais. Havia o estigma do caráter anal e do caráter oral e Freud havia
mostrado uma infinidade de modalidades desenvolvidas na infância.
Dizia-se que o tratamento psicanalítico requeria certo nível de
organização psíquica do paciente e que para muitos não valeria a pena,
limitando o tratamento a sintomas neuróticos circunscritos a pessoas
inteligentes, capazes de livres associações e possuidoras de caráter
“corretamente desenvolvido”, era o conceito feudalista da psicoterapia.
Com
a criação de clínicas psiquiátricas públicas e para pessoas pobres,
começou-se a difundir a idéia de que a neurose é uma doença da massa,
uma epidemia, e não, um capricho de mulheres mimadas. Porque o analista
conseguia curar um paciente e não outro, também era uma questão de
primeira grandeza. Se soubéssemos o porque, poderíamos “selecionar”
melhor os pacientes.
Pacientes perturbados mentalmente se
encontravam, em absoluto, fora da cidade. Ações compulsivas, comas
histéricos e impulsos homicidas, no caso de pessoas abastadas,
socialmente inofensivas, assumiam, no caso dos pobres, um caráter
absurdo e perigoso, considerados como criminosos e perversos, quando se
tratava de operários e empregados.
Os marxistas diziam que a
etiologia sexual da enfermidade psíquica era um capricho burguês, apenas
a “necessidade material” que produzia a neurose e viam a neurose como
um capricho de senhoritas burguesas.
As neuroses da população
operária carecem muito simplesmente do refinamento cultural. São cruas e
ásperas revoltas contra o massacre psíquico a que todo mundo é
submetido. O cidadão próspero suporta sua neurose com dignidade, ou
manifesta-a materialmente, de uma ou outra forma. Entre as grandes
massas da população que trabalha a neurose se manifesta com toda a sua
deformidade trágica.
Categorias de neuroses ou enfermidades
psicóticas – estágio transitório entre a neurose e a psicose que a
pessoa quer livrar-se pelo exagero de ações impulsivas, como produto de
uma atitude contraditória e brutal. Os neuróticos compulsivos e os
pacientes histéricos foram educados desde tenra idade de forma
absolutamente anti-sexual. Na primeira infância não tiveram orientação
sexual e se tornaram prematuramente ativos e foram punidos com
brutalidade. Assim, a punição se torna um eterno sentimento de culpa
sexual: o ego defende-se contra a consciência exagerada, reprimindo, da
mesma forma, os desejos sexuais.
Nestes tratamentos, a satisfação
sexual inibe os instintos psicológicos e os impulsos anti-sexuais
perversos, o que requer um trabalho de análise do caráter do paciente.
Era nova a idéia de que os impulsos perversos fossem ampliados pela
perda da função sexualmente normal. Dizia-se que a sexualidade anal dos
pacientes neurótico-compulsivos era causada por uma forte pré-disposição
herógena da zona anal que determinava a tendência de estados
depressivos. Presumia-se um erotismo particularmente forte da pele que
se encontrava na fantasia masoquista de apanhar. O exibicionismo era
distribuído por uma erogenicidade especialmente forte dos olhos; um
erotismo muscular exagerado que passava a ser responsável pelo sadismo.
A
ação anti-social depende da perturbação genital, levando-a aos
instintos parciais isolados. Toda zona herógena (boca, ânus, genitália,
pele, etc.) tem um instinto parcial correspondente, como por exemplo, o
prazer de olhar, o prazer de apanhar, o prazer de bater. Segundo Freud,
as meninas têm apenas uma sexualidade, a clitoriana e não experimentam o
erotismo genital na primeira infância. Enquanto que para Reich os
impulsos sexuais pré-genitais aumentam com a impotência e diminuem com a
potência, o que se vincula com a relação com pai e mãe. É possível que
aos cinco anos o garoto possa desejar oralmente a mãe e a menina pode
desejar o pai de forma oral ou anal. As relações das crianças com os
adultos podem acontecer de formas variadíssimas. Portanto, a fórmula de
Freud: “amo meu pai ou minha mãe ou odeio meu pai ou minha mãe”, era
apenas o começo, a ponta de um iceberg de tamanho e proporções
descomunais.
Um menino que tivesse uma relação genital plenamente
desenvolvida com a mãe, teria muito maior facilidade de estabelecer uma
relação genital com uma mulher do que o menino que tivesse amado a mãe
apenas de uma forma genital e perversa. No primeiro, bastaria afrouxar a
fixação, já o segundo teria assumido características passivas ou
femininas. A mesma razão se segue com as meninas que tivessem uma
atração vaginal ou anal pelo pai ou tivesse desenvolvido uma posição
sádica masculina. O prazer pré-genital e o prazer genital constitutivos
da teoria de Reich só são avaliados a partir de tais pressupostos.
O
garoto que assiste ao parto da mãe e vê aquele espaço vazio e sangrento
entre suas pernas, ficará psicologicamente castrado, sendo induzido a
não ter nenhuma ereção, tendo um sentimento de vazio dos órgãos
genitais, retração da energia biológica, frieza emocional e morte dos
genitais. Freud afirmava que neurose e angústia eram resultados da
abstinência sexual ou do “coitus interruptus” – trazendo dores nas
costas, dores na cabeça, irritabilidade, perturbações de memória e da
concentração, chegando, muitas vezes à histeria e à neurose compulsiva.
A
emoção tem origem nos instintos, portanto, no campo somático, então
qual é a relação entre o físico, o não-físico e a excitação? Conclui-se
que a neurose estática é uma perturbação física provocada pela excitação
pessoal inadequadamente resolvida; insatisfeita, o que Freud descreveu
como repressão neurótica aos mecanismos infantis. Os que estão
psiquicamente doentes precisam de uma só coisa: uma satisfação genital
plena.
Na nossa sociedade psicótica um homem é considerado “potente”
quando é capaz de realizar o ato sexual pelas vias convencionais. É
“muito potente” quando consegue realiza-lo muitas vezes numa só noite.
Há até quem considere como “potente” um homem capaz de satisfazer uma
mulher ao ponto de causar-lhe inflamações na vagina – o que, sem dúvida,
é um conceito muito mais que enganoso. Uma mulher é considerada
genitalmente sã quando é capaz de experimentar um orgasmo clitoriano. Em
suma, ninguém tinha idéia da função natural do orgasmo, sendo a
perturbação genital a fonte da energia dos sintomas neuróticos.
As
pessoas ainda confundem o ato sexual puramente animal com a posse
afetiva e amorosa. A enfermidade genital que leva à perturbação
neurótica é muito mais comum nos homens que são os mais psicóticos,
principalmente os que gostam de exibir a sua masculinidade. São
potentes, mas não experimentam o prazer – ou apenas um prazer pequeno no
momento da ejaculação – experimentam isto sim, mais o desgosto e o
desprazer – têm atitudes sádicas e vaidosas muito mais que as mulheres.
Para
o homem ostensivamente potente, relação sexual significa penetrar,
dominar e conquistar a mulher e quer apenas provar sua potência e ser
admirado. Quem não tiver uma compreensão plena do papel e da importância
da impotência sexual e suas implicações, jamais perceberá a diferença
entre saúde e doença, a ânsia humana de prazer ou a natureza dos
conflitos entre pais e filhos e a miséria do casamento. Jamais
compreenderá o êxtase religioso e o irracionalismo fascista. Não será
capaz de resolver nenhum problema pedagógico e não compreenderá a
relação entre os processos sexual e vital.
O homem é a única espécie
que destruiu a função natural da sexualidade e está doente por causa
disso. Porque desconhece na prática cotidiana que potência orgástica é a
capacidade de abandonar-se livre de quaisquer inibições, ao fluxo da
energia biológica; a capacidade de descarregar completamente a excitação
sexual reprimida por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do
corpo.
Nenhum neurótico é orgasticamente potente e a estrutura do
caráter da maioria dos homens e mulheres é absolutamente neurótica.
Quanto mais é abrupta a queda da excitação mais intenso será o prazer;
maior e melhor será o seu impacto na construção da saúde sexual, moral e
psicológica da pessoa. E indivíduos sadios e equilibrados construirão
naturalmente relações melhores e mais inteiras, o que culminará com a
realidade social plena de paz, liberdade e amor.
A passividade sexual
das mulheres, embora comum, é patológica. A impotência e a frieza são a
chave para o entendimento da economia das neuroses. O pré-requisito
fundamental para este processo terapêutico consiste em tornar o paciente
consciente da sua sexualidade reprimida, o que pode garantir a cura
quando também elimina a fonte de energia da neurose. A excitação sexual é
um processo somático e os conflitos da neurose são de natureza
psíquica. A maior parte dos crimes é a conseqüência de um desejo
inconsciente de punição que compele a pessoa a cometer o ato criminoso.
Os instintos sexuais individuais não funcionam independentemente uns dos
outros, mas constituem uma unidade, como líquido em vasos comunicantes.
Um
homem que considere inconscientemente seu pênis como uma faca, ou que o
use para provar a sua potência é incapaz de uma entrega total ao ato
sexual. Tem medo de ser surrado, punido, escandalizado ou castrado, é
algo diferente – e muito maior – da angústia que se sente na iminência
do perigo real – o medo e a apreensão passa a ser uma experiência
mórbida da angústia. É necessário distinguir a angústia que resultava de
uma êxtase de excitação e a angústia que era a causa de uma repressão
sexual, a primeira determinava neuroses estáticas e a segunda,
psiconeuroses.
O ódio é mais intenso quando o desejo de amar e ser
amado é bloqueado: um exemplo seria o assassinato sexual, seu requisito é
o completo bloqueio da capacidade de sentir prazer genital de forma
natural. Os animais selvagens são inofensivos quando bem alimentados e
sexualmente satisfeitos. Os touros só são selvagens e perigosos quando
são levados para junto da vaca, não, porém; quando são afastados. Cães
acorrentados são muito perigosos quando sua atividade motora e sua
satisfação sexual são impedidas.
Acabei por entender os traços
brutais de caráter que se manifestam em condições de insatisfação sexual
crônica. Pode observar este fenômeno em solteironas e moralistas
ascéticos. Há mulheres que na menopausa não apresentam traços de maldade
ou ódio irracional, há outras que desenvolvem plenamente estas
características, o que está intimamente ligado à experiência genital
anterior. O segundo tipo é o de mulheres que nunca tiveram uma relação
amorosa satisfatória e agora lamentam esta falha. Cheias de ódio e de
inveja, tornam-se mais violentas e oponentes a qualquer forma de
progresso.
A angústia sexual é causada por uma frustração externa o
que leva ao medo do orgasmo e isso se deve ao desconhecimento da
experiência do prazer: o prazer de viver e o prazer do orgasmo são
idênticos e a angústia do orgasmo é a base do medo de viver.
As
mulheres temem cair sob o poder dos homens e assim, na fantasia, a
vagina se transforma em algo que morde e a intenção disso é remover a
ameaça do pênis. A angústia do orgasmo é freqüentemente experimentada
como o medo da morte, ou o medo de morrer. Os homens histéricos, ou são
incapazes de experimentar uma ereção durante o ato sexual ou sofrem de
ejaculações precoces. As mulheres são frias e igualmente incapazes de
excitarem-se, enquanto os homens compulsivamente neuróticos são potentes
quanto à ereção, mas nunca, quanto ao orgasmo. Os homens
fálico-narcisistas, sempre presentes entre os oficiais, tipo prussianos e
que precisam mostrar constantemente a si que são potentes, têm sérias
perturbações orgásticas. Eles não amam a mulher, apenas servem-se dela. E
entre as mulheres existe a aversão ao ato sexual. A partir daí Freud
sempre afirmava que “não devemos confiar no mundo. Aplausos não
significam nada. A psicanálise está sendo aceita apenas para ser mais
facilmente destruída”.
As palavras podem mentir, mas a expressão
nunca mente, pois é a manifestação imediata do caráter. Pessoas que
cometem suicídio tiveram sua energia sexual excitada mas não conseguiram
uma descarga satisfatória., neste caso, optam por três saídas
patológicas: a)impulsividade auto-destrutiva desenfreada (vício, crime,
drogas); b)neuroses de caráter por inibição de instintos (neurose
compulsiva, histeria, angústia, depressão); c)psicoses
funcionais(esquizofrenia, paranóia, melancolia). Isto sem falar dos
mecanismos neuróticos operantes na política, nas empresas, na guerra, no
casamento, na educação das crianças; todos eles, falta da plena
satisfação genital de muitos milhões de pessoas.
Para inúmeros
indivíduos com a quebra da castidade pré-matrimonial a atitude em
relação ao trabalho mudou. Se até então haviam trabalhado mecanicamente,
sem demonstrar nenhum interesse real, considerando o trabalho um mal
necessário que uma pessoa assume sem pensar muito, agora se tornavam
judiciosas. Se as perturbações neuróticas as impediam antes de
trabalhar, agora eram impelidas por necessidade a se entregarem a um
trabalho prático, pelo qual pudessem ter um interesse pessoal. Se o
trabalho realizado era capaz de absorver seus interesses, florescia. Se,
porém, era de natureza mecânica, como o do empregado de escritório, o
do homem de negócios ou do funcionário medíocre, então se tornava um
peso quase intolerável, levando necessariamente para duas tendências: ou
a crescente concentração de uma atividade social à qual o sujeito se
entregava inteiramente; ou o veemente protesto do organismo psíquico
contra o trabalho mecânico e não edificante, exercido às custas da
renúncia aos desejos íntimos. Em outros casos houve o completo abandono
do trabalho quando o paciente, uma vez restabelecido se tornou capaz de
obter a satisfação genital completa.
Esposas que haviam enfrentado
pacientemente a vida com maridos que não amavam e que haviam se
submetido ao ato sexual por exclusiva obrigação, não puderam continuar a
fazê-lo. Simplesmente se recusaram. Estavam fartas. Não se pode
concordar com o princípio de um sistema convencional de que a mulher
deve incondicionalmente satisfazer as exigências sexuais do marido
enquanto durar o casamento, quer queira, quer não; quer o ame, quer não,
quer esteja sexualmente excitada ou não. O oceano de mentiras é abismal
neste mundo das relações humanas. Faz-se necessário questionar – e
muito – as normas socialmente impecáveis: ser fiel apenas por obrigações
conjugais – a idéia de amar o companheiro contra a sua vontade é
inaceitável, mesmo do ângulo estritamente moral, criando uma astuta
contradição entre o “não quero” e o “não devo” e a consideração
vegetativa do “eu gostaria muito”.
A pessoa neurótica e genitalmente
mal resolvida caminha sempre de mãos dadas com uma potência fraca e é
constantemente forçada a procurar compensações, a desenvolver uma
autoconfiança artificial e afetada. A felicidade dos outros lhe desperta
o mau humor, porque se sente excitado por ela e não é capaz de gozá-la.
Empenha-se na relação sexual, mas apenas para prover a sua potência.
Para a pessoa que tem uma estrutura genital e nada mais, o trabalho é
uma atividade agradável e uma realização. Para o indivíduo moralista
estruturado, o trabalho é um dever cansativo, ou apenas, uma necessidade
material e continua a ser o mesmo no leito conjugal, o que podemos
chamar de “caráter neurótico”, enquanto o outro, chamamos de “caráter
genital” e a atividade terapêutica consiste em transformar o primeiro no
segundo.
A cultura de nossos dias baseia-se de fato na repressão
sexual e na supressão dos impulsos naturais. A atividade genital é filha
do aviltamento e não pode haver correspondência entre sexualidade e
felicidade, o que prejudicaria economicamente a ideologia
econômico-sexual, explicando assim a vileza da sexualidade e seus
perigos. Mas esta “sexualidade” é uma distorção doentia do amor natural e
sua felicidade genuína. As pessoas perderam seu sentimento da vida
sexual natural, mas avaliam-na com base numa distorção que elas, com
razão, condenam.
Por isso lutar pela ou lutar contra a sexualidade é
fútil e inútil. Por causa destas distorções o moralista sempre sairá
vencedor. A distorção não pode ser tolerada. Isso é o que causa um
impasse nas discussões e torna difícil a luta por uma vida sã. Falamos
de sexo, não nos referindo ao ato animal, mas à posse inspirada no amor
genuíno: não urinar na mulher, mas, fundamentalmente, fazê-la feliz.
Homens e mulheres com sentimentos sãos a respeito da vida têm de
suportar calados o sinal de depravação com que são estigmatizados por
outros que se deixam dominar não só pelo medo e pela culpa, mas também,
por fantasias perversas. Não há em nossa sociedade uma única organização
que defenda os sentimentos naturais da vida.
O povo se torna
neurótico em larga escala e para se resolver esta questão é preciso
descobrir a relação entre a educação da família autoritária e a
repressão sexual. Os pais reprimem a sexualidade das crianças pequenas e
dos adolescentes sem saber o que fazem, obedecendo às injunções de uma
sociedade mecanizada e autoritária, o que leva as crianças a desenvolver
pelos pais uma fixação perigosa marcada pelo desamparo e pelo
sentimento de culpa, o que lhes impede de libertarem de uma situação de
infância com todas as inibições e angústias sexuais concomitantes. As
crianças são educadas para se tornarem adultos com neurose de caráter e
depois, transmitem isso para os seus filhos e assim, de geração em
geração. Dessa forma se perpetua a tradição conservadora que teme a
vida. Como, apesar disso podem as pessoas tornarem-se e permanecerem
sãs?
Apesar da situação neurótica da família é possível que algumas
pessoas se tornem e permaneçam sãs. A pessoa doente e a pessoa sã sofrem
com o conflito familiar e a repressão sexual. O flagelo maciço da
neurose se dá em três etapas distintas da vida humana: a primeira
infância a través do lar neurótico, na puberdade, e, finalmente, no
casamento compulsivo e de concepção moralista.
Quanto mais cedo um
adolescente chega a um ato sexual satisfatório, mais é incapaz de
adaptar-se à estreita exigência de “um companheiro só para a vida
inteira”. A exigência do ascetismo dos adolescentes é justamente para
torná-los dóceis e casáveis. As gerações mais velhas sentem-se aviltadas
quando a juventude transcende o que ela não pode alcançar, por isso ela
é educada convencionalmente de forma a ser incapaz para o prazer.
As
necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um único companheiro,
apenas por algum tempo; sendo, portanto, necessário rever a questão do
casamento que já é minado pela própria abstinência pré-matrimonial e a
satisfação sexual está em discordância com os regimes do casamento e a
monogamia vitalícia. A intimidade sexual e a amizade humana são
substituídas nas relações conjugais por uma fixação materna ou paterna e
por muita dependência escravizante: em suma, por um incesto disfarçado.
As pessoas sofrem caladas: tapeiam-se e se tornam hipócritas.
Quão
profundo é o abismo que separa o pensamento científico-natural do
funcional. Toda descoberta científica inclui uma pressuposição
ideológica e uma conseqüência social prática. A lógica abstrata tem a
função de admitir os fatos científicos sem permitir uma só conclusão
prática, é tudo o que a ideologia conservadora quer defender: a
perpetuação do conservadorismo com arrogância e ignorância, mantendo o
poder para quem tem poder e bens para quem tem bens.
Por que nos
recusamos a questionar a atitude de tolerância do trabalhador, sua
renúncia patológica ao conhecimento e aos frutos culturais deste mundo
da ciência? E sua ânsia de autoridade que devemos contemplar como
simples espectadores, enquanto o mundo se precipita no abismo sob a
forma de chaga fascista? O cientista, por sua vez se recusa a lutar
contra a chaga psíquica numa renúncia heróica à felicidade, que culmina
com o teor religioso que leva o homem pacífico a enxergar uma única
saída por meio de um pai imenso e excelso.
A repressão torna o
organismo rígido e incapaz para o prazer quando não há perspectiva de
satisfação e a experiência de felicidade é ameaçada com a punição. A
maior experiência de prazer, o orgasmo sexual, tem a particularidade de
pressupor uma repressão de energia não só biológica – o medo de
engravidar – como também todas as formas de pressão da família
conservadora, da sociedade machista, das normas convencionais da igreja,
sob a pressão do pecado. O homem que tem vários orgasmos com muitas
parceiras é forte, viril, talentoso, atraente. A moça que faz amor com o
namorado é uma despudorada, fútil e fonte de vergonha para a família e o
meio social como um todo.
Produzir ciência cuidadosa e honesta é
“quase um crime” numa sociedade que não mede esforços para reprimir
sexualmente a criança e o adolescente, o que encerra sérios problemas na
formação do caráter. A repressão da sexualidade natural torna as
pessoas doentes e anti-sociais. Nunca será possível vencer a hipocrisia
moralista que mutila nossas crianças e adolescentes se continuarmos a
perpetuar a enfermidade psíquica como produto lógico da repressão dos
instintos sociais diversos, fazendo dos seres humanos criaturas
altamente doentes, anti-sociais, inseguras e maliciosas.
As pessoas
são freqüentemente corruptas, fúteis, desleais, cheias de vazios chavões
ou simplesmente secas, no que são transformadas pelas condições da
vida, enquanto poderiam ter se tornado decentes, honestas, capazes de
amar, sociáveis, naturalmente responsáveis; flexíveis e sem compulsão.
Estamos lidando com contradições de caráter que refletem na sociedade
como um mecanismo neurótico.
Uma criança brinca de maneira natural.
Se coibida por seu ambiente, a princípio, defende-se contra a coibição.
Vencida, preserva apenas a defesa contra a limitação do prazer, sob
forma de reações irracionais de desrespeito, destituídas de objetivos e
patologias. Da mesma forma é o comportamento humano. O anseio do homem
pela vida e pelo prazer não pode ser aniquilado enquanto o caos social
da sexualidade não for totalmente eliminado de nossa cultura e práticas
cotidianas.
Segundo Freud, a irrestrita satisfação também significa
antepor o prazer à prudência, associando a felicidade a impulsos
anti-sociais produzidos por uma educação compulsiva. E ainda assim o uso
de narcóticos para conseguir a felicidade e dominar a miséria é
encarado como uma bênção. O homem sexualmente satisfeito é também um
homem mais produtivo em todos os sentidos. A supressão da sexualidade
das crianças e dos adolescentes tinha a função de tornar mais fácil para
os pais insistir na obediência cega dos filhos. Nos primórdios do
patriarcado econômico a sexualidade das crianças e dos menores de idade
era combatida por meio da castração direta ou da mutilação genital. E
mais tarde, a castração psíquica por meio da inculcação da angústia
sexual e do sentimento de culpa que tornou-se o mais habitual dos meios.
A supressão sexual torna o homem dócil. A castração dos garanhões e dos
touros tem a função de produzir satisfeitos animais de carga. Ninguém
pensou nas conseqüências da castração psíquica. Freud confirmou mais
tarde a relação entre repressão sexual e atitude de submissão.
A
formação de uma estrutura de caráter sexual negativa era o objetivo real
e inconsciente da educação. A pedagogia não pode se separar da
estrutura do caráter o que se liga ao objetivo social da educação que
sempre serve ao sistema existente. Se este sistema está em desacordo com
os interesses da criança, então a escola deve ignorar os interesses
dela, sendo infiel a si mesma e render-se aberta e hipocritamente
estabelecendo o seu objetivo como se fosse o bem-estar da criança.
Essa
educação não se distingue da família compulsiva que oprime a criança e
despreza as grandes revoluções sociais que tiveram lugar na vida sexual
do homem e na vida da família. Claudicava e claudica atrás de mudanças
concretas e embaraçou-se em seus próprios motivos irracionais, dos quais
não tem consciência.
A propagação da neurose é a propagação do
flagelo. É mais difícil combater a neurose social; pois, medidas
higiênicas oneram demais as massas. As somas do dinheiro gastas na
guerra em duas semanas seriam suficientes para satisfazer as
necessidades afins de milhões de pessoas, enquanto isto, a estrutura
psíquica neurótica vai se tornando uma estrutura psíquica somática, uma
segunda natureza, que por si, vai delineando o caos irreversível da
humanidade inteira.
Os assassinatos de origem sexual, os abortos
criminosos, a agonia sexual dos adolescentes, a destruição de todos os
impulsos vitais na criança, a perversão em massa, a pornografia e a
polícia de costumes; acompanha tudo isto a exploração do profundo anseio
humano de amor – a politicagem neurótica dos pretensos salvadores da
humanidade.
Historicamente, as funções biológicas e psicológicas dos
homens sempre estiveram nas mãos de mulheres sexualmente frustradas. Não
havia nada contra a sociedade de velhas damas frustradas sexualmente e
contra outras culturas mumificadas. O conflito sexual entre as crianças e
os pais mostra a supressão sexual com origem sociológica e cultural e
não, biológica. A homossexualidade e a masturbação eram encaradas como
meio incompleto e inatural de satisfação sexual e mais ainda, como forma
de perturbação crônica. Há, até hoje, grupos de crianças reservadas
para um casamento pré-arranjado e política ou economicamente vantajoso.
Crianças
saudáveis são sexualmente ativas de maneira natural e espontânea.
Crianças doentes são sexualmente ativas de maneira imatura e perversa; o
que divide o adulto com sexualidade natural e sã e sexualidade perversa
ou neurótica. A supressão sexual é de origem econômico-sexual e não,
biológica. A humanidade tem sido por milhares de anos, forçada a negar
sua lei biológica e que, em conseqüência, desenvolveu uma antinatureza
autoritária, patriarcal e com proibições morais absolutamente
compulsivas; máscara e estrato do inconsciente freudiano: sadismo,
avareza, inveja e perversões de toda a sorte.
A culta burguesia
européia do Séc. XIX e início do Séc. XX adotou formas de comportamento
moralistas, compulsivas e transformaram o feudalismo no ideal de conduta
humana. No iluminismo, os homens começaram a procurar a verdade e a
clamar pela liberdade enquanto as organizações moralistas e compulsivas
os governavam (e ainda governam): leis coercitivas, ciência compulsiva,
vigorando a paz enganosa com irrupções ocasionais gerando neuroses
sintomáticas, ações criminosas neuróticas e perversões; é quando a
revolução começa a despertar o povo europeu para o desejo de liberdade,
independência, igualdade e autodeterminação com a urgência interior de
libertar o próprio organismo vivo.
Após a Primeira Guerra Mundial se
destruíram muitas instituições frias, brutas, mesquinhas autoritárias e
compulsivas, as democracias queriam conduzir o povo para a liberdade e
se empenhavam diuturnamente nisto, cometendo um enorme erro de cálculo,
não conseguindo ver os milhares de anos de repressão das energias vitais
dos homens e nem o defeito enorme da neurose de caráter, a chaga
psíquica, a estrutura irracional do ser humano, a vitória das ditaduras
que o verniz superficial da “boa” educação e um autocontrole fantasioso
haviam refreado durante tanto tempo.
Os campos de concentração, a
perseguição dos judeus, a sádica e divertida destruição de cidades
inteiras, a monstruosa traição às massas por governos autoritários que
alegam representar o interesse do povo; na submersão de dezenas de
milhares de jovens que ingênua e desamparadamente acreditavam estar
servindo a uma idéia; na destruição de bilhões de dólares, frutos do
trabalho humano, o que era suficiente para eliminar a pobreza do mundo
inteiro, tudo feito por uma neurose que se intitula “alta política” e
que floresce sobre o desamparo dos cidadãos do mundo.
No fascismo
torna-se patente a doença psíquica das massas. Os oponentes do fascismo
procuravam solução na personalidade de Hitler e nos erros formais dos
vários partidos ‘democráticos’ da Alemanha, o que significava
transbordar o flagelo da miopia individual ou a brutalidade de um só
homem. O fascismo não operava com o pensamento do homem – Hitler – mas
com as reações emocionais infantis. Aqueles que não entenderam isso não
entenderam o fascismo que é um fenômeno internacional. O povo, não
conseguindo conhecimentos, atirava-se às mãos de um guia autoritário e a
ilusória proteção que se lhe prometia. Hitler liquidou a liberdade
individual em nome da liberdade nacional levando milhares de pessoas a
optarem por esta liberdade ilusória que as livrava da responsabilidade
individual. Suspiravam por uma liberdade de gritar, de fugir da verdade,
a liberdade de serem sádicos, de atrair mulheres com os seus uniformes,
de sacrificarem-se por alvos imperialistas ao invés de lutarem
cegamente por uma vida com melhor qualidade. A liberdade de reconhecer a
autoridade política tradicional em vez da autoridade baseada no
conhecimento dos fatos.
O fascismo é meramente a extrema conseqüência
reacionária de todas as anteriores formas não-democráticas de liderança
dentro da estrutura do mecanismo social, usando o desejo de liberdade
das multidões. Assim, Hitler prometeu a supremacia do homem, e,
especialmente, do homem que trabalha. As mulheres seriam relegadas aos
planos da casa e da cozinha, sendo-lhes negada a independência econômica
e excluídas do processo de formação da vida social, esmagando-lhes a
liberdade. As mulheres foram as primeiras a aclamá-lo porque ele
prometeu a destruição das organizações autocráticas e burguesas.
A
igreja se associa a ele pregando a felicidade no outro mundo, valendo-se
do conceito de pecado, implantando profundamente na estrutura da mente
humana uma desesperada dependência de uma figura sobrenatural e
onipotente. Hitler declarou-se este ser onipotente e onisciente, enviado
por Deus e que poderia afastar a miséria do mundo.
No lugar da
atividade espontânea, Hitler prometeu o princípio da disciplina
compulsiva, do trabalho escravo e obrigatório, mesmo assim, vários
milhões de trabalhadores empregados alemães votaram nele, educados para
não entender nada a respeito do processo de trabalho, e por isso,
impedidos de fazê-lo, acostumados a serem excluídos do controle da
produção e receberem apenas seu mísero salário; se identificando com o
Estado e a Nação que eram “grandes e fortes”.
Hitler declarou
abertamente que as massas populares eram infantis, femininas e fracas e
que apenas repetiam o que era incutido nelas. Milhões de pessoas o
aclamaram, “pois ali estava um homem que queria protegê-las”. Ele exigiu
que toda ciência fosse subordinada ao conceito de raça – a metafísica
da hereditariedade. A teoria das substâncias herdadas e predisposições
na compulsão do comportamento humano, considerando câncer, neuroses,
psicoses e angústias como hereditários. A teoria fascista da raça é
apenas uma extensão das convenientes e burguesas teorias da
hereditariedade e de preservação da família a partir do abstrato chavão
de que, quem criticasse a família e o amor entre os pais e filhos era um
inimigo da pátria, um destruidor da sagrada instituição familiar, um
anarquista.
A família alemã, autoritária típica, principalmente no
campo e nas pequenas cidades inculcava a mentalidade fascista aos
milhões e moldavam a criança de acordo com o modelo compulsivo da
renúncia e da obediência cega e absoluta à autoridade que Hitler sabia
explorar tão brilhantemente, o que era transmitido para a família maior:
a Nação: “Mãe Alemanha e Deus Pai Hitler” tornaram-se símbolos das
emoções infantis profundamente arraigados. E assim houve na Alemanha,
por exemplo, muito mais suicídios e miséria higiênico-social. O
fascista, quando diz judeu, significa: o ganhador de dinheiro, o
usuário, capitalista, sujo, bestialmente sexual, castrador e assassino, o
que vem completar a ideologia horrendamente dominadora imposta por este
modelo de sociedade.
Caminhando finalmente para a questão específica
do orgasmo, do prazer e da saúde sexual neste contingente árido da
convulsão, dos poderes e da tirania do ser humano e como um dos caminhos
para a busca de solução, entendemos que a pessoa sexualmente sã é
aquela que tem de 3 a 4 mil relações sexuais de boa qualidade durante a
vida, mas em média, 2 ou 3 filhos. Métodos anticoncepcionais são
absolutamente necessários à saúde sexual. Por causa da educação
defeituosa sexualmente, muitos homens e mulheres mantêm-se insatisfeitos
durante as relações sexuais, daí ser imprescindível uma educação sexual
profundamente afirmativa e libertária, principalmente da criança e do
adolescente. A abstinência sexual prolongada é absolutamente nociva.
“Lute por este direito”. A negação compulsiva da atividade sexual
prazerosa e saudável torna possível aos psicopatas agir como ditadores e
modernos propagandistas sexuais que envenenam a vida de todos nós. Em
suma, o que é necessário é efetivar a liberação e a proteção da
sexualidade natural de todos, e, muito especialmente, das massas
populares.
A sexualidade sempre foi e continuará sendo o cerne
biológico da estrutura do caráter. Na concepção do fascismo, apenas os
impulsos perversos vieram à tona. O mundo pós-fascista efetuará a
revolução biológica que o fascismo não realizou, pelo contrário, fez
tudo para dificultar e com isto, tornou-a profundamente necessária e
inadiável.
O que fazer com a energia sexual liberada? O mundo dizia
não a tudo que a higiene e a saúde sexual exigiam. Os instintos naturais
são fatos biológicos que não podem ser modificados e como todos os
organismos vivos o ser humano necessita primeiramente de matar a sua
fome e de satisfazer seus instintos sexuais e a sociedade moderna
dificulta a primeira e frustra a última.
Para a psicanálise, o prazer
de sofrer a dor era o resultado de uma necessidade biológica. A dor e o
desprazer são os desejos instintivos do masoquista. Há indústrias
inteiras que florescem às custas da falsa idéia de masoquismo que
ajudaram a criar. Por que o masoquista sente-se compelido a ser
atormentado? A perversidade crônica se encontra na base desta fantasia. O
masoquista deseja romper-se, pois só assim consegue a relaxação. Sofrer
e suportar o sofrimento são resultados da perda da capacidade orgástica
para o prazer. Assim, sem que pretendesse foi descoberta a dinâmica de
todas as religiões e filosofias do sofrimento e através dos contatos com
o cristianismo pode-se perceber a conexão entre o mecanismo biológico e
a religião , o êxtase religioso configura-se com o mecanismo
masoquista.
As massas trabalhadoras sofrem graves privações de toda a
espécie. São exploradas e dominadas por uns poucos que detêm o poder.
Em forma de ideologia e prática de várias religiões patriarcais, o
masoquismo prolifera como erva má e sufoca todos os direitos naturais à
vida. Mantém as pessoas no estado abissal de submissão. Impede suas
tentativas de chegar a uma ação racional comum e os satura do medo de
assumir a responsabilidade de sua existência. É a causa do fracasso dos
melhores impulsos de democratização da sociedade.
As pessoas são, de
fato, submissas à liderança totalitária do Estado da mesma forma que o
indivíduo é obediente ao pai-todo-poderoso. A revolta contra a
autoridade ditatorial é considerada neurótica, enquanto a resignação às
suas instituições e exigências é tida como absolutamente normal e,
quando não, digna de méritos e prêmios.
A fricção sexual é um
processo biológico fundamental para a operacionalização da forma do
orgasmo composta de tensão/carga/descarga/relaxação e ocorre em todo o
reino animal, iniciando-se com a excitação biológica junto com a
congestão, expansão e ereção; governando o corpo por processos elétricos
que buscam o permanente equilíbrio, segundo uma conhecida lei da
física, o orgasmo é uma carga elétrica, e, dependendo do seu movimento
de um pólo negativo para um positivo e/ou vice-e-versa e tudo isso tem
muito haver com o problema da sexualidade que é o elo catalisador
central de todas as funções e atividades humanas.
As convulsões que
levam ao clímax, ou orgasmo surgem de uma tensão sentida em todo o
corpo, mais fortemente nas regiões do coração e do abdômen e se
concentrando nos órgãos sexuais que se tornam congestionados com o
sangue, excitando assim outros pontos, o que aumenta com o processo de
fricção, levando ao clímax que é uma condição caracterizada por
convulsões involuntárias da musculatura dos genitais e do corpo inteiro
que é acompanhada da descarga de energia elétrica; armazenada nos dois
corpos e depois descarregada no orgasmo por meio, principalmente, das
contrações espontâneas.
Imaginemos uma bexiga que pode expandir-se
até um grau extraordinário e então, com poucas contrações relaxar-se.
Pode estar flácida, tensa, relaxada ou excitada. Pode conservar certas
partes em estado de tensão contínua e outras num estado constante de
movimento. Se apertássemos de um lado, uma tensão e uma carga aumentada
apareceriam do outro. Se esforçássemos realmente para manter uma pressão
constante sobre a superfície toda, impedindo-a de expandir-se por meio
da contínua produção de energia, ficaria em perpétuo estado de angústia;
sentiria-se constrangida e limitada. Se pudesse falar, pediria que a
livrássemos desta situação torturante e alguém teria de fazê-lo,
girando-a no espaço (ginástica); amassando-a (massagem); furando-a se
necessário (sensação de estar sendo aberta por furos); machucando-a
(fantasia masoquista de apanhar); e, se nada ajudasse, dissolvendo-a ,
destruindo-a, desintegrando-a (nirvana da morte sacrifical).
Uma
sociedade formada de semelhantes bexigas criaria as filosofias mais
idealistas a respeito do “estado de ausência do sofrimento”, associando o
prazer ao medo, à dor. Criaria teorias sobre a maldade, a propensão ao
pecado e a ação destrutiva do prazer, teria medo da tão ardente e
necessária sensação de relaxação, e então odiaria semelhante idéia e
finalmente perseguiria e mataria qualquer um que falasse disso.
Juntar-se-ia a outros seres igualmente constituídos, peculiarmente
inflexíveis e traçariam normas rígidas de vida para garantir a
tranqüilidade, a resignação e a continuidade das relações habituais.
Em
qualquer hipótese a bexiga seria sempre atormentada pela angústia e
tudo mais decorre inevitavelmente desta angústia. Nessa descrição surge o
pensamento teológico absoluto no campo da biologia, e, contrariamente a
ele, nós não temos relações sexuais com “o fim de gerar filhos”, mas
porque uma congestão de fluidos carrega bioeletricamente os órgãos
genitais e os pressiona em direção à descarga. Isso, por sua vez, é
acompanhado pela descarga de substâncias sexuais. Assim, a sexualidade
não está a serviço da procriação; mais propriamente a procriação é um
resultado ocasional do processo de tensão-carga-descarga nos genitais.
Isso pode ser deprimente para os campeões da filosofia moral eugênica,
mas é a mais pura verdade. A procriação é uma função da sexualidade, e
não, o contrário.
Precisamos de instrumentos teóricos e práticos para
entender as culturas humanas nas quais o patriarcado é estrito à mais
severa supressão sexual das crianças pequenas e dos adolescentes, e a
ideologia da reserva de autocontrole são parte essencial de todos os
círculos culturais. Isto é especialmente verdadeiro quanto às culturas
da Índia, da China e do Japão, o que resulta em angústias e cóleras
agudas, ambas prejudiciais à cultura da família patriarcal e dependentes
da ideologia do autocontrole e do poder de não mover um só músculo, por
maior que seja a dor; na verdade, precisam ao mesmo tempo de superar a
emotividade: o prazer assim como o sofrimento, o que é a síntese da
ideologia budista do nirvana e dos exercícios respiratórios dos iogues
que é o oposto exato da respiração que usamos para reativar as
excitações emocionais.
Outro fenômeno que desempenha um papel
destruidor na vida de nossos dias é a atitude militar, especialmente a
levada pelos fascistas, a rígida atitude militar é o exato oposto da
atitude natural, solta, ágil. O pescoço tem de estar rígido, a cabeça,
esticada, os olhos devem olhar fixamente para o mesmo ponto, o queixo e a
boca, numa expressão “varonil”, o tórax, puxado para fora, os braços,
mantidos rente ao corpo, as mãos esticadas e o estômago para dentro. As
pernas duras e rígidas, os ombros levantados, o pescoço tenso, o
abdômen, chupado e a pélvis retraída. As pessoas educadas desta forma e
forçadas a manterem esta atitude física são capazes de impulsos
vegetativos naturais. Tornam-se máquinas, executando cegamente
exercícios manuais e mecanizados, respondendo pronta e obedientemente:
“sim, senhor; sim, senhora”, atirando mecanicamente contra seus próprios
irmãos, pais e mães.
Ensinar o povo a assumir uma atitude rígida e
não, natural, é um dos meios mais essenciais usados em um sistema
ditatorial para produzir, com a perda da vontade, organismos que
funcionem autoritariamente, sendo esta a estrutura da educação que forma
o caráter do homem moderno, o que afeta grandes círculos sociais e
destrói a alegria de ser feliz de muitos milhões de homens e mulheres.
Certas
expressões habituais na educação na boca de pais e mestres retratam o
encouraçamento e o aprendizado do autocontrole: - “Quem quer ser homem
deve dominar-se.” – “Não se deve deixar levar.” – “Não se deve
demonstrar o medo ou os sentimentos.” – “Cólera é falta de educação”. –
“Uma criança decente senta-se quieta.” – Se der vontade de falar, cerre
os dentes.”
Essas frases, características da educação, inicialmente
são repelidas pelas crianças, depois aceitas com relutância, laboradas,
e, por fim, executadas. Entortam-lhes a espinha da alma, quebram-lhes a
vontade, destroem-lhes a vida interior, fazem delas bonecos bem educados
e incapazes para a felicidade.