sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Grande Deusa, Seus Símbolos e a Liberação


A Grande Deusa, Seus Símbolos e a Liberação
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Excertos de palestras
Durga significa “forte”. Estamos presos dentro desse forte, e vemos o céu ao redor. É exatamente como um campo de futebol, e, dentro dele, nós estamos presos. Duh significa “difícil”, e ga significa “ir”. É difícil ir embora porque há muitíssimos muros.
Então, a superintendente deste mundo material se chama Durga. Com suas dez mãos, ela é muito poderosa. Dez mãos significam as dez direções: leste, oeste, norte, sul, nordeste, noroeste, sudeste, sudoeste, zênite e nadir. Assim, ela está vigiando todos os lados: “Você não pode sair”. Portanto, ela se chama Durga-devi, e este mundo material se chama Devi-dhama, “o lugar onde Devi, a mãe Durga, é a superintendente”. Deste modo, durga-shakti, a energia material, é tão poderosa que você não pode sair desse forte da existência material sem permissão superior. Quem pode dar essa permissão é o proprietário da energia.
Energia de Quem?
No Bhagavad-gita (7.14), Krishna diz:
daivī hy eṣā guṇa-mayī
mama m
āyā duratyayā
m
ām eva ye prapadyante
m
āyām etāṁ taranti te
“Esta Minha energia divina, que consiste nos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Porém, aqueles que se renderam a Mim podem facilmente transpô-la”.
Ela também se chama Maya, daivi-maya. Maya de quem? É de Krishna. Maya significa algo maravilhoso ou místico. Significa também ilusão, ou afeição, ou muitos outros significados. Porém, de um modo ou outro, Durga-devi, Maya, é de Krishna. Assim como a penitenciária é do governo e o Palácio do Governo também é do governo, tudo é de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, embora a penitenciária não seja tão boa quanto o Palácio do Governo. Īśāvāsyam idam sarva (Isopanisad 1): “Tudo pertence a Ele”. Portanto, Krishna diz mama maya, que significa “Minha energia”.
Também no Brahma-samhita (5.44), declara-se:
sṛṣṭi-sthiti-pralaya-sādhana-śaktir ekā
ch
āyeva yasya bhuvanāni bibharti durgā
icch
ānurūpam api yasya ca ceṣṭate sā
govindam
ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
“A potência externa, Maya, que é da natureza da sombra da potência cit, é adorada por todos como Durga, a agência criadora, preservadora e destruidora deste mundo material. Eu adoro o primordial Senhor Govinda [Krishna], segundo a vontade de quem Durga se conduz”.
Ainda no Bhagavad-gita, verso 14.4, encontramos:
sarva-yoniṣu kaunteya
m
ūrtayaḥ sambhavanti yāḥ
t
āsāṁ brahma mahad yonir
ahaṁ
bīja-pradaḥ pitā
“Ó filho de Kunti, deve-se compreender que é com o nascimento nesta natureza material que todas as entidades vivas, em todas as espécies de vida, tornam-se possíveis, e que Eu sou o pai que dá a semente”.
Krishna diz, ahaṁ bīja-pradaḥ pitā: “Eu insiro as sementes das entidades vivas na matéria”. Eis como as sementes das entidades vivas, como nós, são impregnadas na matéria. Assim como o pai impregna a mãe, esta natureza material é tal qual a mãe, daí a natureza material ser adorada como a mãe, a deusa, a deusa mãe, Durga, Kali. E o nacionalismo, a adoração ao país, também é a mesma adoração à matéria. Yasyatma-buddhih kunape tri-dhatuke (Srimad-Bhagavatam 10.84.13): “A pessoa identifica o eu com o corpo inerte composto de três elementos, a saber, muco, bile e ar”. Então, enquanto não nos esclarecermos, seremos adoradores desta energia material.
Acomodados na Prisão
Então, maya, esta natureza material, está sempre afligindo sobre as almas condicionadas três tipos de misérias de modo que elas possam retornar à sua consciência, a consciência de Krishna. As almas condicionadas, porém, são tão tolas e tão obtusas que elas aceitam: “Essas misérias são muito agradáveis”. Elas não têm o entendimento de que estão sempre em três tipos de misérias: adhyatmika, as misérias causadas pelo corpo e pela mente; adhibhautika, as misérias causadas pelo comportamento inamistoso de outras entidades vivas, e adhidaivika, as misérias causadas pelas perturbações naturais enviadas pelos semideuses. A penitenciária não se destina a deixar os prisioneiros confortáveis, senão que se destina a sempre lhes dar dificuldades de forma que possam se conscientizar de que os transgressores, os infratores, são punidos. Mas o prisioneiro se torna tolo o bastante para pensar: “Tudo bem. Não me importo com esta prisão. Deixe-me terminar este tempo de detenção e novamente causar transtorno”. Isso continua.
O Tridente, o Demônio e o Leão
Estamos nesta natureza material em virtude de nosso esquecimento e aversão a Krishna.
sei doṣe māyā-piśācī daṇḍa kare tāre
ādhyātmikādi tāpa-traya tāre jāri māre
“Devido a se opor à consciência de Krishna, a alma condicionada é punida pela bruxa da energia externa, maya. Ela, destarte, sofre as três classes de misérias”. (Caitanya-caritamrta, Madhya 22.13)
Vemos nas ilustrações da deusa Durga que ela carrega em sua mão um trisura, tridente. E um asura, uma pessoa demoníaca, está pelejando com o leão que a transporta, e a deusa está perfurando o peito desse demônio com o tridente. O demônio é muito forte e luta contra o leão, e a mãe, a deusa Durga, pega o demônio pelo cabelo e perfura o peito dele com o tridente ao mesmo tempo em que o leão ataca. Assim, a nossa posição atual é que estamos pensando como o demônio.
O leão é o símbolo de rajo-guna, o modo material da paixão. Kāma eṣa krodha eṣa
rajo-guṇ
a-samudbhavaḥ (Bhagavad-gita 3.37): Quando há excesso de modo da paixão, somos tomados pela luxúria e pela ira.
A característica do demônio é desafiar a existência de Deus, em consequência do que esta prakrti, natureza, o está perfurando com o tridente, que são as três classes de misérias. Estamos sob o controle da natureza material, e esse tridente está fincado em nosso peito. Como podemos compreender isso? Estamos experimentando esse tridente a todo momento. Assim, aqueles que são esclarecidos podem compreender que estamos em uma condição miserável. E aqueles que não são esclarecidos, mas estão em ignorância, pensam: “Tudo bem quanto a isto. Não nos importamos”.
kāma-krodhera dāsa hañā tāra lāthi khāya
“Deste modo, a alma condicionada se torna serva dos desejos luxuriosos e, quando estes não são realizados, torna-se serva da ira e continua a ser chutada pela energia externa, maya”. (Caitanya-caritamrta, Madhya 22.14)
A bola de futebol, embora chutada de um grupo para o outro, pensa: “Estou movimentando-me livremente”. Essa é sua liberdade. Que liberdade é essa? Assim como a bola está submetida aos chutes dos dois times de futebol, estamos subordinados aos chutes da luxúria e da ira. Somos luxuriosos e, quando a nossa luxúria não é satisfeita, somos chutados pela ira. Prosseguimos conduzindo a nossa vida dessa forma.
Por que Krishna Criou Maya?
Alguém talvez pergunte: “Por que Krishna criou a energia material, que é uma condição tão miserável?”. O governo pode criar uma penitenciária, mas por que você vai para lá? O governo convidou você para ir morar lá? Não, você se torna um criminoso e vai para lá. Existe a penitenciária e existe a universidade. Por que algumas pessoas vão para a penitenciária em vez de irem para a universidade? O governo não é parcial com as pessoas. Ele não diz: “Vocês viverão nesta universidade e serão educados, e vocês irão para a prisão e viverão lá”. Isso é uma escolha individual. Similarmente, Deus criou muitas coisas, mas é nosso dever seguir as instruções de Deus. Deus disse, sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja (Bhagavad-gita 18.66):Simplesmente abandona todo contrassenso e rende-te a Mim. Dar-te-ei completa proteção”. Essa é a declaração de Deus. Deus é onipotente, e pode criar muitíssimas coisas para algum propósito – como este mundo material, cujo propósito é dar uma chance às entidades vivas esquecidas dEle, que quiseram desfrutar deste mundo –, mas por que vocês não seguem as instruções de Deus? Deus diz: “Rende-te a Mim”. Por que você não se rende? Por que se rende a maya?
Saindo da Prisão
Não é possível sair de Durga mediante suborno. Isto é muito fácil de entender. Vi em Delhi, por exemplo, que um homem trabalhava como datilógrafo dentro da penitenciária. Ele fora condenado a dez anos de prisão por ter atuado como espião em um departamento secretarial do governo. Mas ele era instruído e inteligente, e agradou o superintendente da prisão. Portanto, em vez de ser mantido em uma cela comum, foi colocado no escritório para datilografar. Esse prisioneiro, por ter satisfeito o superintendente da prisão, recebeu a pequena concessão de não ser colocado na cela comum, mas de trabalhar no escritório como datilógrafo. Há muitos prisioneiros políticos que recebem bangalôs de primeira classe e todas as facilidades, mas o superintendente da polícia não tem o poder de soltá-los. Isso não é possível. Similarmente, subornando Durga ou satisfazendo-a, você pode obter uma posição confortável dentro deste mundo material, mas seu verdadeiro afazer é como sair deste mundo, e isso Durga não pode dar.
hariṁ vinā naiva mṛtiṁ taranti
“Sem a misericórdia de Hari [Krishna], ninguém pode livrar-se do mundo da morte”.
A menos que você se renda a Krishna, não há possibilidade de sair das garras de maya. As almas condicionadas, entretanto, não estão se conscientizando de qual é a sua posição. É pela graça de algum representante especial do Senhor Supremo, ou pelo próprio Senhor Supremo, que é oferecida às almas condicionadas esta consciência: “Este não é o seu lugar. Você é parte e parcela de Deus. Seu lugar é o reino de Deus. Seu lugar é lá. Você está pelejando muito duro dentro desta natureza material. Apenas tente compreender sua posição”.
Tudo isso é descrito nas escrituras, nos Vedas, de sorte que as tolas almas condicionadas retomem seu juízo e tentem se tornar conscientes de Krishna e tentem tornar sua vida bem-sucedida a fim de que possam voltar ao lar, voltar ao Supremo.

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